sexta-feira, 24 de setembro de 2021

A Senhora de Wildfell Hall - Anne Brontë

A Senhora de Wildfell Hall
 - Anne Brontë

Editora: Record
Ano da Edição: 2017
Páginas: 504
Título Original: The Tenant of Wildfell Hall

Sinopse
Clássico da literatura inglesa, considerado o primeiro romance feminista, em edição integral. Filha mais nova da família Brontë, Anne era irmã de Emily Brontë, autora de O morro dos ventos uivantes, e de Charlotte Brontë, autora de Jane Eyre - livros clássicos e reeditados até hoje. Anne Brontë desafia as convenções sociais do século XIX neste romance, A senhora de Wildfell Hall. 
A protagonista da obra quebra os paradigmas de seu tempo como uma mulher forte e independente, que passa a comandar a própria vida. Ao chegar à propriedade de Wildfell Hall, a Sra. Helen Graham gera especulação e comentários por parte dos vizinhos. O jovem fazendeiro Gilbert Markham, por sua vez, desperta um grande interesse pela moça e, aos poucos, vai criando uma amizade com ela e com seu filho. Porém, os segredos do passado da suposta viúva e seu comportamento arredio impedem que o sentimento nutrido pelos dois se concretize, fazendo com que Gilbert tenha dúvidas sobre a conduta da moça. Quando a Sra. Graham permite que ele leia seu diário a fim de esclarecer os fantasmas do passado, o rapaz compreende os tormentos enfrentados por aquela mulher e as razões de suas atitudes. Ela narra sua história até então, desde a relação com um marido alcoólatra e de conduta abominável até a decisão de abandonar tudo em nome da proteção do filho.


Resenha

A Senhora de Wildfell Hall é o livro mais famoso da menos aclamada irmã Brontë, a Anne Brontë. E ele é simplesmente INCRÍVEL! Sério. Eu fui ler em uma leitura conjunta que o prazo final é só no fim de setembro, mas não consegui me conter às metas semanais. Eu comecei e só parei quando terminei, pois não conseguia largar o livro. Esse livro é perfeito, favoritado, 5 estrelas, tudo na vida, maior que carreiras, enfim, não sei nem como escrever essa resenha para exaltá-lo o suficiente. 

"Se o livro é bom, o sexo de seu autor não é significativo. Todos os romances são, ou deveriam ser, escritos para os homens e as mulheres lerem, e não compreendo como um homem poderia se permitir escrever algo que seria realmente desonroso para uma mulher, ou por que uma mulher deveria ser repreendida por escrever algo que seria apropriado para um homem e digno dele."
- Prefácio de Anne Brontë, 22/07/1848

Essa edição já começa maravilhosa desde o texto inicial escrito pela tradutora. Ela explica alguns detalhes que eu não sabia sobre a publicação. Por exemplo, uma das responsáveis pelo livro e por Anne não ser tão aclamada quanto Emily e Charlotte Brontë, é a própria Charlotte! O livro era tão revolucionário para a época, que, após a morte precoce de Anne, Charlotte impediu a reimpressão do romance, pois o considerava um erro da irmã. Por isso, o livro só foi redescoberto e relançado bem depois e mesmo assim muitas edições tinham partes cortadas (ou censuradas, né!).

"Para os leitores de hoje, é angustiante ver até que ponto Helen suporta os excessos do marido — mas o fato de ela, afinal, se rebelar contra ele foi o que mais chocou a sociedade da época." 
- Introdução da tradutora

O livro é considerado por alguns como o primeiro romance feminista e você entende o porquê disso logo de cara, mas isso é reforçado ao longo de toda a história. Não é que a protagonista fale sobre o feminismo, ou fique militando explicitamente. É porque a temática do livro e o desenrolar do enredo mostram a personificação da mulher feminista: forte, decidida, que toma as rédeas da sua vida e que não acha que merece menos da vida por ser mulher, ou que deva tratar seu filho de certa maneira apenas porque ele é homem. 

"Sempre que a Sra. Graham concordava em falar, gostava de ouvi-la. Quando suas opiniões e seus sentimentos coincidiam com os meus, era seu extremo bom senso e seu incrível bom gosto que me encantavam; e, quando eram diferentes, era a ousadia desabrida com a qual admitia ou defendia seus pontos de vista que me deliciava."  - Capítulo 7

A história começa com a viúva Sra. Helen Graham morando sozinha com seu filho e uma criada em uma casa velha em uma cidadezinha, o que, claro, vai gerar muita fofoca na cidade. Principalmente pelas suas atitudes e suas convicções diferentes, além de seu passado misterioso. Gilbert, um vizinho, se dá muito bem com o filho de Helen e eles se tornam amigos, mas Helen não deixa que nada passe disso. Nós percebemos que ela tem alguns traumas passados, temos indícios sobre o que é, mas depois Helen entrega seu diário a Gilbert para que ele a conheça por completo. E é aí que vamos saber a profundidade das feridas de Helen no seu passado em um relacionamento abusivo e que vamos ter noção do quanto esta mulher é incrível. Ela aguentou tanto sofrimento, mas finalmente conseguiu sair da situação e construir uma nova vida e um futuro feliz para si e para seu filho.

"Deus nos julgará por nossos pensamentos e nossas ações e não pelo que os outros dizem de nós." - Capítulo 39

Eu ficava tão angustiada lendo o livro, pois é uma história que escutamos todos os dias até hoje. Mulheres presas em um relacionamento abusivo e aguentando de tudo e mais um pouco. É uma história que Anne Brontë teve a coragem de escancarar em um livro em 1848! Acredito que seja bem inspirador para mulheres que vivem nessas condições ainda hoje em dia de tomarem coragem e se livrarem dessa situação, pois se Anne pôde escrever sobre sua personagem fazer isso no século XIX, quando a sociedade inteira seria contra ela, você também consegue! Por favor, mulheres, não fiquem em um relacionamento assim, ninguém merece viver dessa forma. Saia, busque ajuda de uma amiga, de um familiar, da polícia, ligue 180! 

"Quando digo para não casar sem amor, não quero dizer que deva se casar apenas por amor; há muitas, muitas outras coisas a serem consideradas. Guarde seu coração até encontrar um bom motivo para dá-lo a alguém e, se tal ocasião nunca surgir, console-se com isso: embora, numa vida de solidão, suas alegrias possam não ser muitas, suas tristezas, ao menos, não serão maiores do que será capaz de suportar." - Capítulo 41

E meninas, leiam o livro e percebam os sinais de um homem escroto, abusador! Eles podem parecer inofensivos no começo, você pode achar que ele só precisa de um apoio seu para se tornar uma pessoa melhor, que você vai mudá-lo, mas a realidade não é assim. Arthur Huntingdon cumpre todos os requisitos do abusador: ele a diminui; ele se irrita quando ela está triste, pois aquilo pode estragar o humor dele; ele tem ciúmes de tudo e de todos, inclusive do relacionamento da esposa com Deus e com o próprio filho; ele quer ela em casa como seu objeto de uso pessoal e não como uma pessoa com sentimentos e vida próprios; ele acha que ele pode fazer tudo, até deixa-la sozinha e ir curtir a vida por meses, mas ela tem que ficar plena e feliz em casa lhe esperando; enfim, é o pior tipo de macho. 

"Primeiro, examine; depois, aprove; e só por último ame. Que seus olhos não vejam nenhuma atração externa, que seus ouvidos não ouçam o fascínio causado pelos elogios e o discurso fútil. Eles são nada. Pior que nada... são armadilhas e artimanhas da tentação, para atrair os imprudentes para sua própria destruição."  - Capítulo 16

No prefácio escrito pela própria Anne Brontë para a segunda edição do livro, ela fala que o livro foi criticado por ter um personagem tão perverso e cruel, mas ela diz que escreveu por experiência própria, que não inventou nada, que viu homens desse jeito em primeira mão. E a gente sabe que tá certa, né! O povo só ficou chocado dela ter jogado os segredos obscuros da sociedade na cara deles.

"Sei que pessoas assim existem de fato e, se consegui advertir um só rapaz estouvado a não seguir seus passos, ou impedir uma única moça leviana de cometer o erro compreensível de minha heroína, então este livro não terá sido escrito em vão." - Prefácio de Anne Brontë, 22/07/1848

O livro é maravilhoso, porque é tão real e, infelizmente, tão atual. E Anne escreve de uma maneira tão simples e direta, que a leitura flui facilmente, você nem percebe o tempo passando. E a história te prende do início ao fim! O recurso que a autora usou para dividir a história entre o presente e passado foi massa e te envolve de tal maneira que eu não conseguia largar o livro para saber o desenvolvimento daqueles personagens e daquelas tramas. Tenho muito mais para falar e, ao mesmo tempo, não tenho mais palavras para tentar convencer vocês a lerem esse livro. Só leiam! 

 

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