segunda-feira, 8 de outubro de 2018

A Sangue Frio - Truman Capote

A Sangue Frio - Truman Capote

Editora: Companhia das Letras
Ano da Edição: 2003
Páginas: 438
Título Original:
In Cold Blood
Sinopse
Um homem religioso, uma mãe depressiva, um adolescente, uma garota dona de casa, um cachorro amedrontado e dois ladrões frustrados. Esses e outros personagens são os ingredientes chave para o romance jornalístico A sangue frio, de Truman Capote. O livro é uma reportagem investigativa sobre o assassinato de quatro membros da família Clutter, o casal e seus dois filhos caçulas, ocorrido em 1959 na cidade de Holcomb, no Kansas, Estados Unidos.



Resenha

A Sangue Frio é um clássico do jornalismo, pois foi o primeiro livro que realmente instituiu o gênero romance de não ficção. Já tínhamos alguns exemplos, mas foi com Truman Capote que o marco aconteceu de verdade. É um livro de leitura obrigatória pra todo jornalista, mas devia ser pra todo mundo, porque é realmente incrível. A fluidez que Capote narra a história é fascinante. Sem falar que a história em si (o crime e a descoberta de seus autores e motivos) é bem intrigante, parece roteiro de livro de ficção, mas é a realidade nua e crua mesmo. E já aí percebemos a genialidade de Capote, que percebeu o potencial dessa história para criar sua obra prima ao ler uma notinha de jornal sobre esse crime brutal.

Os Clutter eram uma importante e bem querida família de uma cidadezinha no interior do Kansas, nos EUA, em 1959. E é cidadezinha mesmo! 270 habitantes. E de repente o 4 membros da família aparecem brutalmente assassinados em sua fazenda, sem que nada tenha sido roubado, sem muitas pistas e sem motivo aparente para o crime. A cidade fica toda em alerta e as relações por lá nunca serão as mesmas, porque ficam todos desconfiados uns dos outros. O tempo vai passando e a polícia não acha pistas muito produtivas.

O livro começa no dia anterior ao assassinato e só termina com a execução da pena de morte dos dois culpados. Capote acompanhou todo o processo de perto e por 6 anos trabalhou no livro, pesquisando e entrevistando os moradores da cidade e os envolvidos no caso. E o mais interessante é que ele não usava gravador, ou fazia anotações, ele apenas conversava com o entrevistado e só depois fazia suas anotações. E diz-se que ele usou apenas cerca de 20% destas para o projeto final do livro. A Sangue Frio foi primeiro publicado pela renomada revista The New Yorker em quatro partes, só depois foi lançado no formato livro.

Capote conta a história com uma maestria que você se envolve bem com o enredo. É uma história real e ele inclusive transcreve depoimentos dados à polícia sobre o caso, transcreve cartas, mas é de uma forma bem inovadora, com uma narração do estilo de romance mesmo. E é isso que é tão interessante no livro: como ele inovou a Literatura e o Jornalismo de uma vez só, utilizando a linguagem e o estilo literário para fazer um livro-reportagem. No início acompanhamos a narrativa junto com a família antes do assassinato, depois alternamos entre moradores da cidade, os policiais e os criminosos.

Eu não consigo nem descrever o quanto gostei do livro, dessa narração poderosa e envolvente de Capote. Ele também dá uma abordagem mais psicológica na apresentação e construção dos personagens dos assassinos. Algumas pessoas até acusam-no de humanizar demais os dois assassinos (Perry e Dick). Mas eu acho que ele apenas nos deu os fatos e deixa que nós mesmos façamos nossas conclusões. Em certos momentos ele conta o passado turbulento de Perry e Dick, e no momento seguinte fala dos crimes deles em detalhes. Eu acho que ele quis mostrar que ninguém é de todo ruim, ou de todo bom. A vida e as personalidades e as atitudes das pessoas não são apenas dicotômicas, não são opostos tão simples como bem X mal, não são preto no branco. E Truman Capote captou essa complexidade do ser humano, que está presente até nos mais brutais assassinos. E isso não relativiza, nem justifica seus crimes.

Algumas pessoas também questionam a total veracidade dos fatos narrados. Bom, quanto a isso não posso definir nada. Talvez ele possa ter “embelezado” alguns diálogos para melhor se encaixar na narrativa. Mas também temos que entender que o Capote é um escritor, e não um relator. E cada um escuta, entende, interpreta e narra o mesmo fato de formas diferentes, de acordo com sua vivência de mundo, sua relação com o entrevistado e até com o seu humor. E talvez seja apenas à essa “interpretação” que as pessoas se refiram quando questionam a veracidade do livro.

Enfim, eu achei o livro fantástico e recomendo a todos! E para quem é da área de comunicação, é tão obrigatório quanto saber o que é um “lead” de uma notícia. O livro é tão bom que você não quer parar de ler nem pra comer. Capote realmente escreveu sua obra prima. E que obra prima!



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