segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Tempo de Migrar para o Norte - Tayeb Salih

Tempo de Migrar para o Norte - Tayeb Salih

Editora: Planeta para TAG
Ano da Edição: 2018
Páginas: 176
Título Original: Mawsim al-hijra ila al-shamal

Sinopse
Neste romance conta-se a história das viagens e visões de Mustafa Said que se encontra dividido entre dois continentes. Mustafa Said é órfão de pai e quando jovem abandona a mãe e parte para Londres onde se destaca profissionalmente. Mas a visão dos britânicos sobre o continente africano e sua própria condição de expatriado são motivos que causam revolta e decepção em Mustafa.



Resenha

"Tempo de Migrar para o Norte" foi o livro de maio/2018 da TAG Curadoria, que veio em um kit com um projeto gráfico interessante e como mimo veio um chá, que ainda não provei. Este foi um daqueles livros que eu não compraria se visse na livraria, mas como a TAG enviou, eu tive que ler.

O livro me surpreendeu, pois nunca tinha ouvido falar nele e a sinopse não me deixou muito empolgada, mas ao começar a ler, não consegui mais parar. A história começa quando o narrador, cujo nome não sabemos, volta para sua cidadezinha no Sudão depois de passar alguns anos estudando na Europa. Ele fica intrigado com um homem desconhecido, Mustafa Said, que casou com uma mulher da cidade, mas que parece ser de fora e ter uma educação diferenciada. Então fica a pergunta: como alguém que não é dali, que já viajou pelo mundo, escolhe morar num lugarejo daqueles?

A curiosidade do narrador desperta a nossa também, até que Mustafa decide contar sua história em uma noite. Contudo, o narrador não compartilha conosco tudo o que ele ouviu naquela noite. Conforme o tempo vai passando, algumas situações despertam a memória do narrador, que só então vai revelar mais uma parte de sua conversa com Mustafa. Dessa forma, a história de Mustafa não é contada linearmente, mas sim conforme as lembranças do narrador vêm a tona.

A escrita do autor é bela, com metáforas interessantes, e fluida. O autor também tem uma visão bem realista da política de seu país. Por um lado, ele critica os colonizadores europeus por acharem que estavam salvando o povo da barbárie, por outro, ele reconhece que os colonizadores também não culpados por tudo de ruim que há no país e critica os políticos sudaneses. A visão que temos do Sudão neste livro não é romantizada, aqui são expostas a intolerância do povo e a ausência total de direitos para as mulheres.

É revoltante pensar que este livro foi escrito na década de 1960, mas muitas das coisas que são relatadas sobre as mulheres continuam do mesmo jeito no Sudão e em outros países. Enfim, é um livro bastante interessante, sobre um país do qual pouco ouvimos falar, então é ótimo para nos tirar da zona de conforto. Minha única reclamação é sobre o final, pois vocês sabem que não curto muito essa coisa de final aberto.

"A vida é cheia de dor, mas devemos ser otimistas e encará-la com coragem." p.40

2 comentários:

  1. Gostei desse livro principalmente pelo contexto histórico apresentado, normalmente quem mora na colônia ainda não percebeu a influência que sofre com a metrópole, apesar de não ter gostado da solução para Mustafa se vingar, achei válido comentar a indignação. E outra, que raiva que dá ler os abusos contra a mulher, nossa, muito triste, aquela conversa entre os idosos eu não sabia se ria ou se chorava.

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    1. Nem me fale! Aquela conversa foi revoltante. Também não concordo com o que Mustafa fez, mas pelo menos ele não é tratado como um herói dentro da história.

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