terça-feira, 14 de novembro de 2017

Quase Memória - Carlos Heitor Cony

Quase Memória - Carlos Heitor Cony

Editora: Nova Fronteira para TAG
Ano da Edição: 2017
Páginas: 272
Sinopse
Quase Memória explora o território situado entre a memória e a ficção a partir de um punhado de recordações do narrador-autor. Nelas, a figura de seu pai é o centro e a motivação para o exercício das lembranças que, constantemente, adquirem contornos do imaginário. Nostalgia, cumplicidade, vergonha, saudade; os mais diversos sentimentos despertados por um improvável embrulho.

Publicado em 1995, Quase memória marcou a volta de Cony às grandes narrativas depois de mais vinte anos. Rompendo limites entre gêneros e situado em algum ponto entre a ficção e a memória, o livro rapidamente se tornou sucesso de crítica e público e ganhou, em 1996, o Jabuti de Melhor Romance e o Prêmio de Livro do Ano.


Resenha

Primeiro, queria dizer que o projeto gráfico deste kit da TAG (o de setembro) ficou impecável. A caixa representa o embrulho que o narrador recebeu e que é toda a motivação da história do livro. A manga na capa também lembra o pai que tinha uma "tara" pela fruta a ponto de fazer o narrador passar a maior vergonha no seminário, ou pelo menos é o que ele nos diz.

Quanto à história, eu gostei bastante. Tudo começa quando o narrador/autor recebe um embrulho que só pode ter sido enviado pelo seu pai. Só tem um problema: o pai está morto há 10 anos! Então, o narrador vai nos contando porque ele tem tanta certeza de que o embrulho foi enviado pelo pai, apesar de: (1) o homem está morto e (2) não tem o remetente e ele ainda está reticente em abrir o pacote.

O narrador vai nos contando suas histórias sobre o pai no ritmo em que elas vão voltando à memória. Então, a narrativa não tem um fluxo linear. Uma hora ele fala de algo que ocorreu na adolescência, depois se lembra de algo da infância, então vai para outra memória de quando ele já era adulto... Eu achei esse recurso interessante, pois fica mais natural. É assim que uma pessoa se lembra das coisas: enquanto nós contamos uma lembrança, algo nela traz à tona outra lembrança que pode ser um tempo completamente diferente.

Dessa forma, a narrativa tem aquele jeito de conversa com o narrador. É uma leitura flui rapidamente, mas que nos faz refletir em alguns momentos, nos faz pensar na nossa relação com nossos pais e nesse nosso jeito imperfeito de amar. Percebemos o quanto o narrador amava (e ainda ama) o pai e quanto foi influenciado por ele. E também percebemos, por tudo que o pai fez, o quanto ele amava os filhos, nos pequenos gestos e surpresas que ele gostava de fazer para os filhos.

É um livro bonito e que eu recomendo a todos. Só fiquei doida para saber quais partes das lembranças são reais e o que foi inventado/incrementado pelo autor. Pois o narrador é ele mesmo, Carlos Heitor Cony, e o pai é o seu pai, Ernesto Cony, mas além do embrulho (que na vida real foi só um sonho) ele admite que inventou umas coisinhas a mais:

"Portanto, não deveria ser uma produção de memória, mas uma quase memória na qual eu poderia inventar mentiras, saudades e sonhos que nunca se realizaram." (o autor na dedicatória aos associados da TAG)



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