terça-feira, 7 de novembro de 2017

O Quinze - Rachel de Queiroz

O Quinze - Rachel de Queiroz

Editora: José Olympio
Ano da Edição: 2014
Páginas: 160
Título Original: name

Sinopse
O Quinze foi o primeiro e mais conhecido romance da escritora. A história se dá em dois planos: um enfocando o vaqueiro Chico Bento e sua família; o outro, a relação afetiva entre Vicente, rude proprietário e criador de gado, e Conceição, sua prima culta e professora. Conceição é apresentada como uma moça amante dos livros e com tendências feministas e socialistas. O período de férias, ela passava na fazenda da família com a avó Mãe Nácia, no Logradouro, perto do Quixadá, onde morava seu primo Vicente. Com o advento da seca, a família de Mãe Nácia decide ir para cidade e deixar Vicente cuidando de tudo, resistindo. No segundo plano, Rachel apresenta a marcha trágica do vaqueiro Chico Bento com sua mulher e seus cinco filhos, representando os retirantes. Ele é forçado a abandonar a fazenda onde trabalhava. Com algum dinheiro, mantimentos e um animal, ruma para o Norte, onde há a extração da borracha. No percurso, o filho mais novo morre envenenado e o mais velho desaparece. Ao chegarem no campo de concentração, são reconhecidos por Conceição, sua comadre, que vai lhes prestar ajuda. Rachel conseguiu exprimir os anseios e angústias da sua região brasileira.



Resenha

O último dia 4 de novembro foi o marco de 40 anos de que a primeira mulher assumiu uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (sim, também fiquei chocada que só em 1977 tivemos a nossa primeira representante feminina na ABL...). Esta mulher foi a cearense Rachel de Queiroz. Ela nasceu em 17 de novembro de 1910 e faleceu em 4 de novembro de 2003. Rachel de Queiroz é uma das mulheres mais importantes da literatura brasileira e ganhou inúmeros prêmios, inclusive foi a primeira mulher a receber o Prêmio Camões, em 1993. Como uma singela homenagem, vim escrever uma resenha sobre uma de suas mais aclamadas obras: O Quinze.

O Quinze foi o primeiro livro publicado da autora e é até hoje seu livro mais popular. Isso não é à toa! É um livro maravilhoso, com uma linguagem simples e direta e com uma narrativa muito crua e verdadeira. Sério. É incrível a profundidade que a Rachel de Queiroz conseguiu imprimir no romance.

As descrições da seca no sertão nordestino são tão bem escritas que até quem nunca foi ao sertão e nunca viu a “terra rachada”, ou a “poeira ruiva” consegue sentir o calor do sol escaldante e sentir o desespero dos personagens ao esperar dia após dia, mês após mês, por uma chuva. Eu não moro no sertão, mas vou muitas vezes lá e posso lhe garantir que ela consegue descrever as coisas de forma singular e extremamente fiel. E fiquei ainda mais chocada e maravilhada com a genialidade da autora, quando fiz as contas e descobri que ela escreveu tudo isso com apenas 19 anos. As cenas que ela traça, os sentimentos dos personagens que ela faz transparecer, enfim ... a maturidade da escrita é realmente incrível.

O livro é a história de 2 grupos familiares em meio à grande seca que assolou o sertão cearense em 1915. Eu percebi que o livro é mesmo sobre a seca, que os personagens são apenas os “instrumentos” para contar a história da seca. Tudo o que acontece, de alguma forma ou de outra, está ligado à seca. Para mim, a seca é a personagem principal do livro. É um livro sobre o drama da seca e sobre a fome, a miséria e a desolação que vêm com ela, e sobre a felicidade e a renovação que chega com a chuva no sertão nordestino.

Acompanhamos a história de Conceição e sua família, que teve que deixar o sítio e ir para a cidade. Ela, que já morava em Fortaleza, vai buscar sua avó para vir morar com ela. E seus primos saem do sítio para Quixadá, a cidade mais próxima. Porém Vicente não consegue abandonar suas terras, nem seu gado para morrer e passa todo o livro em um “duelo entre o homem e a terra”, como é descrito no prefácio da edição que eu li.

O livro já falava de feminismo, dos direitos das mulheres, do socialismo. Conceição é uma mulher forte, independente e solteira, que gosta de ler e se informar e que não quer casar somente por casar, pois ela não precisa disso. Sua vó, Mãe Nácia, não concorda muito com tudo isso. Percebemos o quanto Conceição é forte, decidida e bem resolvida durante toda a narrativa, especialmente na sua relação com seu primo Vicente.

“Leio para aprender e me documentar”. 

O outro núcleo que seguimos é o de Chico Bento e sua família que perde seu emprego para a seca e tenta migrar para o Norte. Essa é a típica e verdadeira história de um grupo de retirantes fugindo da seca e a autora não embeleza, nem suaviza a história, ela não nos poupa dos detalhes mais sórdidos e das dificuldades dessa vida. Rachel de Queiroz conta as histórias como elas são: um caminho difícil, cheio de obstáculos; uma fome implacável; pessoas mesquinhas. Mas mostra também o lado bom e generoso do sertanejo, que está passando fome, mas não nega o pouco que tem para ajudar outros na mesma situação.

“A generosidade matuta que vem na massa do sangue, e florescia no altruísmo singelo do vaqueiro”. 

Enfim, não vou ficar aqui falando sobre a genialidade do livro, pois não pararia de falar até o ano que vem! Só preciso dizer que amei muito o livro e só me arrependo de não ter lido antes. Para quem procura um romance leve divertido, este não é o seu livro. Mas se você quer uma leitura rápida, envolvente, real, profunda e sensível, não precisa procurar mais, este é o livro que você deve ler!



Um comentário:

  1. Uau! Que resenha, agora fiquei com vontade de ler o livro, tb me levou a admirar mais ainda Raquel de Queiroz.

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